Capítulo 149

- Ela estava grávida ?  - Seu pai perguntou. 

- Estava, iria contar ainda. – Sua mãe mesmo o respondeu. 

- Alguém que ir vê-la primeiro ? – O médico, que ainda continuava ali, disse. 

- Todos vão poder entrar ?  - Sua mãe o perguntou. 

- Vão.

- Vai primeiro, Luan. – A olhei e ela piscou o olho. 

Me levantei e segui o médico, de cabeça baixa.

Entrei no quarto e Juliana ainda dormia, o médico disse que acharam melhor dar um sedativo ela, para poupar a dor que sentiria, disse para mim não a estressar, caso acordasse, mas que já podia falar para ela sobre a perda do bebê e se foi, me deixando sozinho com ela. Me sentei em uma poltrona que tinha do lado da cama e peguei em sua mão, que estava vermelha, ela deveria ter caído em cima, olhei para seu rosto e logo depois para sua barriga, que agora estava vazia, uma lágrima caiu dos meus olhos e logo depois outra e outra. Quando percebi meu rosto já se molhava por inteiro, vi os olhos de Juliana mexendo e parecia lutar para se abrirem, funguei e limpei com uma mão as lágrimas derramadas.

- Luan ? – Ela disse baixinho. 

- Oi, meu amor. Não precisa fazer esforço.

- O que aconteceu ? – Ela falava um pouco mais alto.

- Você caiu...Da escada. – Ela olhou para os lados parecendo lembrar e logo me encarou de novo. 

Seus olhos verdes se encontraram com os meus, que mesmo não querendo e lutando contra, não agüentaram e deixaram as lágrimas caírem, mesmo sem falar nada os olhos de Juliana já brilhavam também.

- Ju...

- Eu já sei. – Ela me interrompeu e olhou para baixo. 

- Hãn...

- Não precisa mentir, eu já sei. Eu senti desde que ouvi sua voz gritando meu nome quando cai, insistindo de mãe, sabe ? – Ela me encarou, suas lágrimas já desciam. Olhei para cima fechando os olhos na tentava inútil de parar de chorar. – E além do mais, eu sou médica, eu sei que uma gravidez de pouco tempo não resistiria a uma queda tão...Grave. – Ela suspirou alto. 

- A gente ainda vai ter muitos filho, Ju. – Alisei seu rosto e ela fechou os olhos. 

- Eu sei, que sim. – Juliana sorriu. 

- Um time de futebol ?

- (risos) Um time de futebol.

- A culpa foi toda minha...

- Não fala mais isso, se não você vai me magoar.

- Mais foi.

- Não foi, eu que fui uma burra e saí correndo, sabendo que estava grávida.

- Porque EU briguei com você.

- Para de falar besteira ... – Olhei para ela e a abracei apertado, sentir minha camisa molhar e logo em seguida soluços, não agüentei e me permitir que molhasse seu ombro também. 

- Tudo bem por aqui, casal ? – O médico entrou no quarto. 

Nos ajeitamos, secando as lágrimas e o olhamos.

- Tudo bem, doutor . – Respondi. 

- Que bom, tem mais gente querendo te ver. – Ele disse para Juliana e foi até a porta, fez um gesto com as mãos e logo todos entraram no quarto. – Estou fazendo isso por vocês, mas não podem ficar muito tempo. – Ele saiu. 

- Está tudo bem, filha ?

- Bem não está, porque eu perdi um filho. Mas vai ficar, porque ainda vamos ter vários. – Eles sorriram. – E tenho vocês do meu lado ! - Mesmo na situação que estávamos, Juliana conseguia nos fazer sorrir, nos surpreendendo cada dia mais.

- Vão sim, querida. Estamos sempre com você ! – Minha mãe disse. 

Começamos a conversar e nos distrair com outras conversas, Bruna falava várias coisas com Juliana que sorria. Logo o médico chegou e pediu para que saíssemos, todos tinham compromissos e precisavam voltar, Juliana disse para irem, que já estava tudo bem.

*

Quando acordei já estava no hospital, parecia que tinha acabado de chegar, meus olhos lacrimejaram do nada e por instinto, coloquei as mãos sobre a barriga, senti um vazio enorme, tentei me lembrar de tudo e a voz de Luan me gritando ecôo pela minha cabeça, que latejou. O médico entrou no quarto com algumas enfermeiras e colocou algo no soro que eu tomava, apenas os olhava, meus olhos pesaram e eu os fechei, voltando a dormir.

Quando acordei novamente vi Luan sentado ao meu lado, chorando, já sabia que tinha perdido meu filho e quando vi as lágrimas descerem de seus olhos, tive certeza. Coloquei na cabeça que seria forte e pensaria positivo, para passar força para mim mesma e para os outros também. Conversei com Luan e logo falei para ele que já sentia que meu filho já não estava mais dentro de mim, ele disse que a culpa era dele e eu que a culpa era minha mesmo, iríamos começar uma pequena “discussão” por causa daquilo, mas ele me abraçou apertado e choramos juntos, logo o médico chegou nos interrompendo e dizendo que os outros, que estavam ali queriam me ver. Vi todos entrando, minha mãe, meu pai, os pais de Luan, Bruna, Roberval, Guto e o segurança de Luan. Falei com eles que estavam visivelmente preocupados, logo sorri passando confiança e começamos uma conversa descontraída, para tentar amenizar aquele clima terrível.

O médico me liberou no outro dia, passamos pelos fundos do hospital, já tinha imprensa na porta de entrada, mesmo que estava um pouco conformada, ainda não estava preparada para falar sobre o assunto em público.